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Ato esvaziado liderado por Bolsonaro na Paulista pressiona por anistia e expõe alianças com governadores da extrema direita

Com apoio de sete governadores, incluindo presidenciáveis da direita, manifestação reuniu apenas 45 mil pessoas de seis estados, custeadas com dinheiro público; evento marcou primeira aparição pública de Bolsonaro após virar réu por tentativa de golpe de Estado.

Num ato político marcado por discursos radicais e presença ostensiva de aliados da extrema direita, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) liderou neste domingo (6), na avenida Paulista, uma manifestação em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. A mobilização, que reuniu apenas 45 mil pessoas, teve participação de militantes trazidos de seis estados com apoio logístico e financeiro de governadores bolsonaristas — um indicativo de uso de recursos públicos para fortalecer a base de apoio ao ex-mandatário, hoje réu no STF por tentativa de golpe de Estado.

Mesmo com o aparato mobilizado, o ato ficou aquém das expectativas. A imagem aérea de uma Paulista parcialmente ocupada contrastou com a tentativa de demonstrar força política. Organizado por Silas Malafaia, o evento também serviu como palco para exibir possíveis presidenciáveis da direita em 2026: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Jr. (PR) e Ronaldo Caiado (GO) estiveram presentes ao lado de outros três governadores — Jorginho Mello (SC), Mauro Mendes (MT) e Wilson Lima (AM).

Ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que incentivou mulheres a “empunhar seus batons” como símbolo da causa, Bolsonaro fez questão de abraçar a mãe de Débora Rodrigues, acusada de pichar a estátua da Justiça durante a invasão ao STF e atualmente em prisão domiciliar por cinco crimes, incluindo tentativa de golpe de Estado e associação criminosa armada.

“Só um psicopata para dizer que aquilo foi tentativa armada de golpe”, afirmou Bolsonaro, num discurso de confronto com o Judiciário e recheado de insinuações golpistas. O ex-presidente também pediu “50% do Congresso aliado” a partir de 2027, numa ameaça velada ao STF, responsável por julgar ministros em caso de impeachment.

Além de exaltar seu próprio governo, Bolsonaro repetiu a tese já refutada de que o verdadeiro golpe ocorreu em 2022, ao se referir à vitória eleitoral do presidente Lula, a quem chamou de “vagabundo”. Tarcísio, por sua vez, sugeriu que anistias já aconteceram ao longo da história brasileira e que o país precisa de “pacificação”. Ele também liderou um coro com a frase “se tá tudo caro, volta Bolsonaro”.

Silas Malafaia atacou diretamente o Alto Comando do Exército, chamando generais de “frouxos” por não se posicionarem contra prisões de militares envolvidos em ações golpistas. Já Michelle Bolsonaro mencionou diretamente o ministro Luiz Fux, pedindo que ele não “deixe morrer” uma das presas do 8 de janeiro — numa clara tentativa de pressionar o STF por decisões mais brandas.

Outro alvo da manifestação foi o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), acusado pelos bolsonaristas de não pautar a proposta de anistia. O primeiro vice-presidente da Casa, Altineu Cortes (PL-RJ), também reforçou a pressão, questionando lideranças partidárias sobre o apoio ao projeto.

A participação do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que vive idas e vindas com o bolsonarismo, chamou atenção. Nunes afirmou que a prisão dos golpistas “é um ato de desumanidade” e garantiu que seu partido lutará pela anistia. Ele é cotado como possível candidato ao governo de São Paulo em 2026, caso Tarcísio não dispute a reeleição.

O evento, embora esvaziado em comparação a mobilizações passadas, explicitou a manutenção de um núcleo duro de apoio a Bolsonaro e o uso político da pauta da anistia para rearticular a extrema direita — agora sem a figura do ex-presidente elegível, mas com novos nomes sendo testados como sucessores de seu capital eleitoral.

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