Douglas Murilo Celestino morreu para salvar a namorada
Uma das vítimas do massacre em Suzano, na Grande São Paulo, morreu após voltar à escola para tentar salvar a namorada. Douglas Murilo Celestino, 16 anos, tinha conseguido sair do Colégio Estadual Raul Brasil, mas decidiu voltar para encontrar a a namorada Adna Bezerra, 16 anos.
Na volta, ele acabou sendo atingido pelos disparos na cabeça. Ele chegou a ser socorrido Hospital Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, mas não resistiu. Adna está internada na UTI do Hospital das Clínicas em São Paulo. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, seu estado é estável.
Douglas era aluno do 3.º ano do ensino médio. A família demorou até conseguir encontrar o estudante entre as vítimas. Foram quatro horas de angústia e informações desencontradas. No momento do resgate estava próximo ao RG de outro aluno e foi identificado como José Victor.
Mais ou menos no mesmo horário, por volta das 10 horas, um tio de Douglas, professor em outra escola de Suzano, começava a ser informado pelos alunos de um ataque no colégio próximo. “Não conseguia mais dar aula porque os alunos começaram a receber mensagens, fotos e vídeos”, diz Robson Chaves, de 42 anos. “Quando deu 11 horas, minha esposa ligou falando que estava com a mãe do Douglas e ele não atendia o celular.”
Aí começou a via-crúcis da família. Primeiro seguiram ao colégio e foram informados que o aluno tinha sido levado ao hospital de Mogi. Chegando lá, como o jovem havia sido identificado como José Victor, a família retornou a Suzano sem uma pista de onde o garoto estava.
Após muitas informações desencontradas, a família tentou novamente contatar o jovem pelo celular. “Só que dessa vez foi uma funcionária do hospital que atendeu o telefone e pediu que a gente fosse para lá.”
Segundo os tios do adolescente, Douglas, embora tivesse muitos amigos na escola, havia pedido à família para trocar de colégio. “Estava tendo muitos casos de indisciplina, bagunça, e ele era mais tranquilo, um menino muito dócil”, diz o tio.
Evangélico, Douglas, além da escola regular, fazia aulas de informática e de futebol. Ao terminar o ensino médio, no fim deste ano, pretendia tentar Computação em uma universidade. Fã de videogames, costumava ir à casa do amigo Gustavo, de 16 anos, para jogar. O colega escapou por pouco.
Amigos
“Ele cruzou com um dos atiradores quando estava correndo, pulou o muro para fugir e correu para casa. Só machucou um dedo da mão Foi um livramento de Deus”, conta o pai, o corretor de imóveis José Roberto Santos, de 49 anos. “Ele chegou em casa, me ligou e disse ‘Pai, aconteceu uma tragédia, escapei por milagre, mas acho que o (Douglas) Murilo não conseguiu.” Os dois eram amigos desde os 5 anos e estudavam na mesma sala. “Ele vivia lá em casa Meu filho está em choque”, diz José Roberto.
Outra vítima, Samuel Melquíades, de 15 anos, se dividia entre a escola, o gosto pelo desenho e a igreja. “Era ele que levava mensagem de esperança aos outros jovens”, disse José Silva, tio do rapaz. “Sempre estava nos dias de culto, quartas, sábados e domingos. Era atuante, dinâmico, alegre, incrível”, contou o tio José Silva, aposentado de 70 anos.
A família frequenta a Igreja Adventista do Sétimo Dia. “Tínhamos a esperança de que pudesse sobreviver”, acrescentou, sobre o rapaz, aluno do 2.º ano do ensino médio do colégio, que havia sido achado vivo na escola. Ele morreu a caminho do hospital. Haverá um velório coletivo na Arena Suzano a partir das 7 horas desta quinta-feira, 14. Já Douglas será velado na igreja Assembleia de Deus.
Feridos
Com uma machadinha no ombro, José Victor Lemos, de 18 anos, chegou caminhando sozinho no Hospital Santa Maria, a duas quadras da escola. Ao ouvir os disparos dentro do colégio, o jovem tentou fugir. “Ele estava com a namorada, saiu para outro lugar, e os dois se desencontraram. Pulou o muro e foi pego de surpresa pelo atirador”, conta o pai, Marco Lemos. Após cirurgia, seu quadro era estável nesta quarta-feira, 13.
O jovem completou 18 anos dia 6. Para a mãe, Sandra Regina Lemos, a partir de agora ele terá duas datas de aniversário. “Nasceu de novo.” Sete vítimas foram para esse hospital – cinco delas foram depois encaminhadas para outras unidades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.