Papa Francisco morre aos 88 anos e deixa legado de simplicidade, justiça social e reformas na Igreja
Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta da história, Francisco transformou o papado com foco nos pobres, na transparência do Vaticano e em uma Igreja mais aberta e próxima dos fiéis

O papa Francisco faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, em decorrência de complicações respiratórias graves. O anúncio foi feito pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo do Vaticano, que expressou pesar em nome da Igreja e exaltou a trajetória de Jorge Mario Bergoglio como um “verdadeiro discípulo de Cristo”.
Francisco, que assumiu o papado em março de 2013, foi o primeiro pontífice da América Latina, o primeiro jesuíta e também o primeiro a adotar o nome em homenagem a São Francisco de Assis — símbolo de humildade, paz e cuidado com os pobres.
“Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal”, declarou Farrell em nota oficial.
Complicações respiratórias agravaram estado de saúde
O Vaticano confirmou que o papa lutava contra uma pneumonia bilateral considerada “complexa”, causada por múltiplos microrganismos. Durante os últimos dias, ele alternou momentos de estabilidade com episódios graves, chegando a ser submetido a ventilação mecânica não invasiva e transfusões de sangue devido à anemia.
Mesmo diante do quadro clínico delicado, Francisco chegou a gravar uma mensagem de agradecimento aos fiéis pelas orações. Nos últimos boletins médicos, seu estado era descrito como “reservado”, mas sem novas crises respiratórias até o agravamento final.
Pontificado marcado por reformas e acolhimento
Ao longo de 12 anos à frente da Igreja Católica, Francisco protagonizou uma virada pastoral no Vaticano. Priorizou o diálogo com populações marginalizadas, buscou maior transparência financeira e promoveu reformas estruturais na Cúria Romana.
Seu papado ficou marcado por posicionamentos firmes contra a desigualdade social, defesa do meio ambiente, combate a abusos na Igreja e críticas contundentes ao capitalismo selvagem. Francisco também promoveu a inclusão de mulheres em cargos de responsabilidade dentro do Vaticano e incentivou a escuta de populações LGBTQIA+ dentro da Igreja.
Apesar de enfrentar resistência de setores conservadores, manteve uma postura conciliadora e aberta ao diálogo com outras religiões e culturas.
Trajetória antes do papado
Nascido em Buenos Aires, em 1936, filho de imigrantes italianos, Bergoglio entrou para a Companhia de Jesus em 1958 e foi ordenado sacerdote em 1969. Tornou-se arcebispo da capital argentina em 1997 e foi nomeado cardeal por João Paulo II em 2001.
Em 2013, após a renúncia de Bento XVI, foi eleito papa no conclave que surpreendeu o mundo ao escolher, pela primeira vez, um líder vindo do “fim do mundo”, como o próprio Bergoglio brincou na época.
Sepultamento será fora do Vaticano, como pediu Francisco
Em respeito à sua própria vontade, Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma — um local profundamente ligado à sua espiritualidade e que ele costumava visitar com frequência. A cerimônia será simples e sem pompa, conforme o rito reformulado por ele em 2024, em que renunciou às tradições dos três caixões e da exposição do corpo na Basílica de São Pedro.
“O funeral do Romano Pontífice é o de um pastor, não o de um chefe de Estado”, afirmou o arcebispo Diego Ravelli ao confirmar os detalhes da cerimônia.
A escolha da basílica mariana, anunciada em 2023, sela o fim de um pontificado pautado pela humildade, compaixão e transformação.