Saúde Crônica: Um Novo Paradigma para a Promoção da Saúde
"A Saúde Crônica como Pilar para um Envelhecimento Sustentável e de Qualidade: Estratégias de Promoção e Desafios Futuros"
Por Dra. Marilea Souza, médica gastroenterologista, maratonista e Presidente da CBEXs
Capítulo Bahia e Leila Brito, gestora do Núcleo de Inovação da Fundação José Silveira e
conselheira da CBEXs Capítulo Bahia
O conceito de saúde crônica surgiu como uma resposta à crescente necessidade de
abordar a saúde de forma mais proativa e integral. Em contraste com o foco tradicional nas
doenças crônicas, a saúde crônica enfatiza o cultivo da saúde ao longo da vida.
O envelhecimento populacional acelerado trouxe desafios significativos para os sistemas de
saúde, incluindo o aumento da prevalência de doenças crônicas, declínio cognitivo e
limitações físicas.
No entanto, é importante reconhecer que o aumento da expectativa de vida é uma
conquista extraordinária que deve ser celebrada. Para garantir que esses anos adicionais
de vida sejam saudáveis e economicamente sustentáveis, precisamos mudar o sistema de
saúde de “reativo a doenças” para “proativo à saúde”.
A saúde crônica exige uma abordagem personalizada e preventiva, voltada às estratégias
que melhorem o comportamento e o estilo de vida da população. Isso inclui evitar o
sedentarismo, pois a prática regular de atividades físicas contribui significativamente para a
saúde física e mental; sono de qualidade; alimentação saudável e equilibrada; hidratação
adequada; controle do estresse; vacinação; combate ao tabagismo de forma contínua; e
definição de objetivos de vida em alinhamento com os valores pessoais, contribuindo para
uma forma de viver mais pacífica e harmoniosa. Ao focar nos principais determinantes
modificáveis da saúde, podemos reduzir a carga de doenças crônicas e promover o
bem-estar ao longo da vida.
A tecnologia também desempenha um papel crucial no apoio à saúde crônica. Dispositivos
vestíveis, aplicativos de saúde e inteligência artificial podem fornecer informações valiosas e
monitorar o progresso, além de facilitar a tomada de decisões compartilhadas, garantindo
que o tratamento seja clinicamente eficaz e, também, alinhado com as necessidades e
expectativas individuais do paciente.
Os executivos em saúde têm uma grande oportunidade para protagonizar essa mudança;
eles podem cultivar uma cultura de saúde e bem-estar dentro das organizações,
conscientizar a população sobre sua importância, investir em pesquisas e inovações que
apoiem estilos de vida saudáveis, colaborar com outros setores para criar ambientes que
facilitem escolhas conscientes e defender políticas que promovam a saúde crônica.
Um desafio adicional ao aumento da expectativa de vida é a escassez de cuidadores de
idosos. Diante dessa realidade, é crucial preparar as pessoas para um envelhecimento
saudável, garantindo que, ao atingirem a idade avançada, possam manter a autonomia em
suas atividades diárias. No Brasil, o perfil etário está mudando de forma acelerada;
estima-se que, até 2035, o número de idosos será o dobro em comparação com 2010. Esse
aumento acentua o desafio no país, pois precisamos adotar estratégias para evitar que os
idosos se tornem um incômodo para si mesmos, família e sociedade.
A capacidade de se adaptar a mudanças econômicas e imprevistos financeiros é outro fator
essencial para manter a qualidade de vida da pessoa idosa. Sem uma base financeira
sólida, ela pode enfrentar dificuldades para cobrir despesas essenciais como saúde,
moradia e alimentação, levando ao comprometimento do seu bem-estar e qualidade de
vida. No Fórum Econômico Mundial: Davos 2024, na Suíça, discutiu-se o tema “resiliência
financeira da longevidade”, alertando para a necessidade de planejamento, que previna
situações de vulnerabilidade e assegure uma vida mais segura e digna à população idosa.
Como executivos e profissionais de saúde, estamos realmente dando o exemplo na
construção de uma sociedade saudável? Nossas escolhas estão preparando o caminho
para um envelhecimento digno e autônomo? É hora de refletir: o que estamos fazendo para
garantir que nossos exemplos não apenas inspirem, mas também concretizem uma
mudança positiva?