O Distanciamento da Esquerda e Seus Efeitos na Política Global: A Perda da Conexão com a Classe Trabalhadora
A desconexão da esquerda com a classe operária, a elitização do discurso libertário e a ascensão de novas forças políticas são fatores que redesenham o cenário eleitoral mundial.
Nos últimos anos, uma afirmação tem ganhado força entre analistas políticos e ativistas: a esquerda global se desconectou da classe trabalhadora. O fenômeno não é restrito ao Brasil, mas tem sido observado de forma ampla em diferentes contextos políticos. Quando analisamos os resultados das últimas eleições ao redor do mundo, essa crítica começa a ser mais do que uma desculpa dos derrotados; ela se torna uma realidade que desafia os fundamentos da política de esquerda.
A questão central levantada por esses críticos é a elitização do pensamento libertário. O que antes era uma demanda legítima da classe operária — por melhores condições de trabalho, salários justos e direitos sociais básicos — transformou-se, aos poucos, em um discurso distante da realidade dos trabalhadores. O que era, inicialmente, uma luta por dignidade no trabalho, com jornadas razoáveis e férias, por exemplo, tornou-se um debate cada vez mais teórico, frequentemente abordado em círculos acadêmicos e por elites políticas.
Esse afastamento da base popular, segundo alguns especialistas, não significa que os trabalhadores tenham abandonado a luta, mas sim que a esquerda se afastou da sua célula mater, o movimento operário. A consequência desse distanciamento é a perda de relevância das questões trabalhistas e sociais mais urgentes, como a qualidade de vida e a ampliação das conquistas históricas. A visão socialista, que sempre foi a base do discurso de esquerda, não tem se adaptado às novas demandas da classe trabalhadora, que já considera vitórias passadas como direitos adquiridos, deixando lacunas para outros grupos políticos preencherem.
Essa lacuna foi prontamente ocupada pela extrema direita e pelo centro político. Utilizando-se das redes sociais e de uma linguagem mais acessível, essas forças conseguiram se aproximar do eleitorado, oferecendo um discurso pragmático, focado em questões imediatas, como o consumo e as necessidades básicas. A promessa de uma vida de “prosperidade” e a criação de um padrão de vida aparentemente alcançável através do consumo se tornaram elementos centrais dessa nova dinâmica política.
Além disso, a ascensão das igrejas neopentecostais e a popularização da “Teologia da Prosperidade” preencheram ainda mais o vazio deixado pela esquerda. A retórica dessas igrejas, que prega que a fé em Deus pode garantir riqueza e bem-estar, conecta-se diretamente com as necessidades de uma população empobrecida e desesperançada. Nesse cenário, a religião, antes dominada pela Igreja Católica, agora ocupa um papel central na vida política, com novas denominações moldando a visão de mundo de milhões de pessoas.
O desafio para a esquerda é claro: precisa retomar o diálogo com a sua base, reconectar-se com as questões reais do povo e deixar de ser vista como uma força política elitista e distante. Caso contrário, a disputa pelo poder tenderá cada vez mais para a extrema direita, que, apesar de seu discurso antiquado, consegue convencer de maneira pragmática a população, apresentando soluções que parecem mais tangíveis para quem vive a dura realidade das desigualdades sociais.
Por: César Marques