Forca ou guilhotina?
Por: Joceval Rodrigues
Deixando claro que nem com assacada seria possível e que se se trata de mera digressão para quebrar a rigidez do momento, chamou minha atenção a ideia da senadora Kátia Abreu (PDT), algo diferente, fora da casinha, ousada e que estava o tempo todo na cara e ninguém via. Sua exortação para que Fernando Haddad pedisse para sair, desse o zignal, o ninja ou se picasse como dizemos na Bahia, não é estapafúrdia. É válida e prevista na Constituição Federal e, pode acreditar, seria realmente uma virada no jogo da eleição para o segundo turno. Com a saída de Hadadd desistindo de continuar candidato caberia ao terceiro colocado em números de votos, no caso Ciro Gomes, disputar diretamente com Jair Bolsonaro.
Quem é capaz de achar que o jogo não iria embolar? O eleitor que odeia o PT e vota em Bolsonaro por falta de perspectiva, dentro daquilo que se conceituou dizer que vota na direita por causa das circunstâncias, mas não é de direita ou fascista, ou o chamado voto útil, teria dessa vez em Ciro a válvula de escape uma vez que ele não representa nenhum tipo de extremismo, com uma postura de centro e conciliadora.
O pessoal que vota em Haddad apesar de achar que o PT é um partido queimado, que errou muito, que não fez o mea culpa e que só coaduna com seu pleito para não deixar que Bolsonaro seja eleito presidente por causa de suas ideis retrógradas como homofobia, desrespeito pelas mulheres, nordestinos, negros e índios (ele paga o que sua língua sem controle professa), teria também sua válvula de escape e com certeza que Ciro Gomes iria ser um aglutinador de todos os insatisfeitos e que se encontram perdido entre a forca ou a guilhotina.
A diferença de votos de Bolsonaro contra Hadadd que é grande e dificulta a eleição do petista com certeza seria superada com certa facilidade no caso de um segundo turno entre Ciro e Bolsonaro. Nós sabemos que o brasileiro não é radical, não é extremista, senão uma pesquisa do Datafolha feita semana passada não revelaria que quase 70 por cento dos brasileiros são a favor, plenamente, da democracia em detrimento de qualquer espécie de extremismo. É um não à extrema-direita e um não à extrema-esquerda.
Mas, a questão é que jamais que o PT seria pragmático a ponto de deixar de lado suas aspirações da tomada do poder total para a prática de uma iniciativa inteligente e que seria aquela que o Brasil precisa neste momento de tanta distensão e dissenção. O PT não sabe perder e nem abrir a mão quando se trata de poder político, como se pode ver na frase publicada em jornais estrangeiros, proferida pelo ex-ministro José Dirceu, um dos cavaleiros do apocalipse do partido e dos seus mentores, explicando que a eleição é o mínimo. Que vale tomar o poder, ficar com o poder. Ele ajudou ainda mais Bolsonaro por ser boquirroto.
Claro que a ideia gestada por Kátia Abreu, embora inteligente, não é plausível, por força de todas as circunstâncias delineadas. Mas o Brasil é pródigo em utopias e, com certeza não se podia deixar de trazer a debate a questão, talvez justamente por seu insólita. E tem algo mais insólito do que acreditar que um dia Jair Bolsonaro poderia se transformar no presidente do Brasil? O Brasil é um país sério, mas não se leva a sério. Já imaginou uma nova campanha com o slogan “Chame Ciro”? Esse “meu Brasil brasileiro”… como disse Ary Barroso.
Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br