Bolsonaro defende discurso sobre Ustra e ‘nazismo de esquerda’ no último dia em Israel
Em um encontro nesta terça-feira em Jerusalém com representantes da comunidade brasileira de uma cidade próxima a Tel Aviv, Bolsonaro mencionou o discurso do impeachment sem, no entanto, mencionar o nome de Ustra.
Ele lembrou a polêmica causada pela menção ao militar morto em 2015 e disse que, alguns dias depois do discurso, “um dono de um instituto de pesquisa (…) falou que, depois daquele voto meu, não pelo voto, mas pelo que eu falei, eu nunca mais me elegeria sequer vereador na capital do meu Estado, o Rio de Janeiro”.
“E aconteceu exatamente o contrário”, completou o presidente.
A menção ao discurso do impeachment foi feita logo depois de Bolsonaro se classificar como, “além de um patriota, um democrata, acima de tudo”.
“No ano de 2016, tivemos um fato marcante em nosso país, uma presidente perdeu seu mandato. E ali, tiveram os deputados alguns segundos para dar um recado e para votar contra ou favorável o impeachment. Eu votei favorável. As palavras ali proferidas por mim tiveram impacto dentro e fora do Brasil por alguns dias, mas eram palavras que estavam sedimentadas, em João 8:32, a verdade tinha que ser conhecida”, disse o presidente aos representantes da comunidade brasileira.
Discurso de Ódio –
O discurso de Bolsonaro na sessão que autorizou o impeachment de Dilma, em 17 de abril de 2016, causou polêmica e protestos de entidades de defesa dos direitos humanos. Na ocasião, Bolsonaro comparou o impeachment ao golpe militar de 1964.
“Perderam em 1964, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade. Contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, disse Bolsonaro na ocasião.
Durante o regime militar, entre 1970 e 1974, Ustra foi o chefe do DOI-Codi do Exército em São Paulo, órgão de repressão política do governo militar. Ali, sob o comando do coronel, ao menos 50 pessoas foram assassinadas ou desapareceram e outras 500 foram torturadas, segundo a Comissão Nacional da Verdade.
A menção de Bolsonaro ao discurso acontece dias depois de o governo ter se envolvido em polêmicas a respeito das comemorações dos 55 anos do golpe militar de 1964.
No último dia 25, o presidente havia determinado que o Ministério da Defesa comemorasse o golpe. As comemorações chegaram a ser proibidas pela Justiça após pedido da Defensoria Pública da União, mas a decisão acabou derrubada por uma desembargadora no sábado.
No domingo, o Planalto divulgou por um de seus canais de comunicação oficial – um número de WhatsApp para o envio de comunicados ao público – um vídeo defendendo o golpe de 1964. O mesmo vídeo foi divulgado nas redes sociais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.
Questionado algumas vezes sobre o vídeo durante a viagem a Israel, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o Planalto não comentaria sua divulgação.
Informações e foto: BBC Brasil