VITÓRIA POLÊMICA – John John Florence vence Filipe Toledo na final do Rip Curl Pro Bells Beach
Foi um evento cheio de contradições, não pelo simples fato de Bell´s acordar com uma força que a muito tempo não vemos em um circuito mundial de surf. Os atletas foram testados ao extremos na sua capacidade física e emocional. Tivemos grandes momentos, intensos e em alguns momentos questionáveis; não pela participação dos atletas, que dentro d’água desempenharam seu papel, mas questionáveis pela atuação da arbitragem, que nitidamente errou na bateria entre John John Florence, e o brasileiro Gabriel Medina nas semifinais.
Alguns podem até concluir que estamos começando esse texto para criar algum tipo de dúvida, ou colocar a WSL (World Surf League) em uma situação constrangedora. Não é o caso, porque a própria instituição já vem errando em resultados de baterias que envolvem a participação de brasileiros. Também podem questionar que estamos por fora dos critérios de julgamento, e que não temos capacidade técnica para julgar uma bateria e os pré-requisitos necessários para escrever esse texto. Pode até ser verdade, não temos a capacidade técnica dos árbitros da WSL, mas todos nós que questionamos os resultados dos brasileiros, somos surfistas, e sabemos distinguir entre uma onda e outra surfada.
Ficou evidente que o havaiano foi beneficiado pelo erro dos juízes. E me arrisco a questionar também o resultado da final entre Felipe Toledo e John John Florence. O surf do Brasil foi prejudicado duas vezes em um mesmo evento.
A ondulação do campeonato, considerada a maior dos últimos 50 anos, deixou os surfistas em condições perigosas. Pranchas quebrando, leashs se rompendo e caldos pesados marcaram as baterias Líder do ranking até então, Ítalo Ferreira foi eliminado com uma penalidade de interferência em sua bateria contra Jordy Smith. A punição rendeu polêmica na internet. Os critérios não ficaram bem claros, e a manobra do brasileiro não foi considerada por muitos, como interferência.
John John Florence abusou do Lay Back nas ondas de Bells Beach, não mudou seu repertório de manobras, ficando muitas vezes repetitivo, chamando a atenção do público que assistia o evento na praia e pela internet.
O havaiano John John Florence conseguiu parar a incrível série de dez vitórias brasileiras nas últimas onze etapas do World Surf League Championship Tour, no mar clássico do sábado de praia lotada em Bells Beach, na Austrália. E ainda tirou a lycra amarela do Jeep Leaderboard do Italo Ferreira, ao vencer a decisão com Filipe Toledo no Rip Curl Pro Bells Beach. Mas será que realmente ele foi merecedor desse feito?
Filipe foi o terceiro brasileiro a disputar o título da etapa mais tradicional do Circuito Mundial nos três últimos anos e não tinha perdido nenhuma das sete finais da sua carreira no CT. Ele tentou a vitória até os segundos finais, quando surfou sua última onda, porém não conseguiu a nota que precisava e o havaiano badalou o sino do troféu de campeão em Bells Beach. O próximo desafio é na Indonésia, de 13 a 25 de maio nas direitas de Keramas, na ilha de Bali.
“Eu me sinto abençoado por estar na final de um evento tão histórico, em ondas como essas, perfeitas. Acho que todo mundo queria estar na final surfando essas ondas”, disse Filipe Toledo. “Foi incrível estar lá fora competindo com um dos melhores surfistas do mundo. O John John (Florence) já me pegou duas vezes e estou de olho nele (risos). Parabéns ao John, Courtney (Conlogue), Malia (Manuel) e a todos, que se saíram muito bem. Foi muito legal assistir o evento estes últimos dias. Eu finalmente consegui surfar bem em Bells Beach, com boas ondas, então estou feliz, foi muito divertido”.
A bateria final foi marcada por longos intervalos entre as séries, com poucas oportunidades para surfar, então a escolha das melhores ondas ganhou peso decisivo. Filipe Toledo pegou a primeira e surfou bem, finalizando muito forte na junção para largar na frente com nota 6,50. John John Florence falha na sua primeira onda, errando o layback que vinha arrancando grandes notas dos juízes. Na outra série que entrou, o havaiano pega uma onda que abre para fazer mais manobras, todavia erra o layback na junção novamente e recebe 4,50.
Filipe pega uma onda maior, com mais pontos críticos para atacar e faz isso com força e velocidade para ganhar 7,33 e abrir 9,33 pontos de vantagem. Só que ainda faltavam 26 minutos para terminar a bateria. John John pega uma intermediária, era pequena, mas conseguiu fazer sua melhor onda na primeira metade da bateria. Com a nota 6,67 recebida, passou a precisar de 7,17 para superar o brasileiro.
Filipe demora um pouco e entra em uma onda que ficou lenta, não conseguindo trocar o 6,50 para aumentar sua pontuação. O havaiano pega uma melhor, mais difícil e aproveita a chance para fazer grandes manobras e assumir a liderança com nota 7,63, há 10 minutos do fim da bateria. Filipe precisava de uma nota 7,00 para vencer, ou seja, repetir o que já havia feito para tirar 7,33. Só que a onda teria que vir e os minutos passavam rápido em mais uma longa e agora agoniante calmaria para o brasileiro.
Filipe nunca tinha perdido uma final nas sete vezes que decidiu títulos em etapas do CT. Na semifinal, ele conseguiu a virada no último minuto, mas passou o sinal dos 5 minutos, nada de ondas, 3 minutos, 2 minutos, 1 minuto, 30 segundos e faltando 10 segundos, Filipe pega uma onda. Passa toda a primeira sessão, aí faz a primeira rasgada, manda um cutback, bate na espuma, mais uma rasgada, acelera e ataca a junção, completa a manobra e fica a expetativa pela nota dos juízes. Ele sai do mar sem saber do resultado, mas a nota sai 5,90 e John John Florence comemorou sua sexta vitória da carreira, a primeira no Rip Curl Pro Bells Beach.
“É um sentimento surreal ganhar este evento”, disse John John Florence. “Especialmente um evento como este, em que começamos com ondas pequenas em Winkipop e finalizamos com condições desafiadoras, muito grandes ontem (sexta-feira) e hoje o mar clássico, perfeito. Foram vários desafios diferentes com grandes competidores e surfar contra o Filipe (Toledo) é sempre muito assustador. Este foi o dia final mais difícil da minha carreira, muito cansativo e estou muito feliz, só quero agradecer a todos em Torquay por nos deixar surfar suas ondas”.
BICAMPEÕES MUNDIAIS – O havaiano foi quem apresentou o melhor surfe de borda nas direitas de Bells Beach, com o seu layback de frontside sendo a arma mortal para liquidar os adversários batendo recordes do campeonato a cada bateria. Foi assim também no sábado, desde o primeiro desafio no duelo de bicampeões mundiais com Gabriel Medina. O brasileiro também brilhou com seu ataque agressivo de backside nas grandes ondas de Bells Beach. Quando ele detonou uma onda que valeu 8,50, John John destruiu duas seguidas para ganhar 8,87 e 8,00 e vencer por 16,87 a 15,17 pontos.
Antes, na chave de cima, Filipe Toledo também surfou uma onda excelente nota 8,17 para despachar o australiano vencedor da triagem, Jacob Willcox, por 14,17 e 13,06. Depois, Medina foi eliminado e o defensor do título do Rip Curl Pro Bells Beach, Italo Ferreira, também perdeu para o sul-africano Jordy Smith. O potiguar surfou a melhor onda da bateria, valeu 8,40, no entanto, entrou numa onda quando a prioridade de escolha era do sul-africano, os juízes assinalaram a penalidade de “interferência” e ele só computou essa nota no resultado, encerrado em 15,23 a 8,40 pontos.
VIRADA EMOCIONANTE – Nas semifinais, Filipe Toledo enfrentou o último australiano e começou bem, surfando uma boa onda com grandes manobras para largar na frente com nota 6,83. Apesar das baterias terem 40 minutos de duração, os intervalos entre as séries eram longos, com poucas ondas boas. Ryan Callinan demora para achar uma, mas abriu um paredão limpo para ele mandar três manobras muito fortes e ganhar 7,67.
Logo, o australiano surfa outra que rende 5,17 para abrir 6,02 pontos de vantagem. Filipe não desiste e pega uma onda no último minuto, começa com um reentry, segue atacando com um cutback, batida, outra pancada forte, mais uma e recebe 6,27 dos juízes para virar o placar para 13,40 a 12,84 pontos. Foi a bateria mais emocionante do último dia do Rip Curl Pro.
A MELHOR ONDA – Na disputa pela outra vaga na final, entraram mais ondas com potencial para o desafio entre os dois surfistas com chances de tirar a lycra amarela do Jeep Leaderboard de Italo Ferreira. O sul-africano Jordy Smith começou melhor com 7,17 e John John Florence demorou para entrar na briga, mas entrou de forma espetacular, dando um show numa onda destruída do início ao fim. Na avaliação dos juízes, foi a melhor apresentação do campeonato e a média da maior nota do ano em Bells Beach ficou em 9,43.
Ele ainda somou um 7,37 na seguinte para vencer o sul-africano por 16,80 a 15,24 pontos. Depois, John John derrotou Filipe Toledo para assumir a dianteira na corrida pelo título mundial e voltar a vestir a lycra amarela do Jeep Leaderboard, que há tempos estava com os brasileiros que ele derrotou no sábado em Bells Beach, Gabriel Medina e Italo Ferreira. O havaiano lidera o ranking com 16.085 pontos, com Italo em segundo com 14.475, seguido por Jordy Smith com 12.170, Filipe Toledo em quarto com 11.120 e Gabriel Medina fechando o seleto grupo dos top-5 com 9.490, após as duas primeiras etapas na Austrália.
PRÓXIMO DESAFIO – A terceira é na Indonésia, o Corona Bali Protected, de 13 a 25 de maio nas direitas de Keramas, onde Italo Ferreira venceu no ano passado depois da sua primeira vitória no CT em Bells Beach. Além dos três do topo do ranking, também estão entre os 22 primeiros colocados que são mantidos na elite dos top-34 para o ano que vem, Willian Cardoso em décimo lugar e Yago Dora empatado em 16.o com os dois estreantes da “seleção brasileira”, Peterson Crisanto e Deivid Silva. Michael Rodrigues caiu do 17.o para o 23.o lugar e três estão em trigésimo, Caio Ibelli, Jessé Mendes e Jadson André.
VITÓRIA NOTA 10 – Na categoria feminina, as meninas também deram um show no sábado de ondas perfeitas em Bells Beach. A norte-americana Courtney Conlogue conquistou a sua terceira vitória no Rip Curl Pro com a primeira nota 10 do ano no World Surf League Championship Tour. Entre os homens, a maior foi o 9,80 recebido por Gabriel Medina com seus aéreos no Quiksilver Pro Gold Coast.
A californiana ganhou a primeira decisão de título do dia derrotando a havaiana Malia Manuel, que também surfou muito bem, por quase um pontinho de diferença no placar encerrado em 15,83 a 14,84 pontos. Malia barrou a número 1 do Jeep Leaderboard, a adolescente de apenas 17 anos, Caroline Marks, que dividiu o terceiro lugar em Bells Beach com a também americana Lakey Peterson, eliminada pela campeã na outra semifinal. A havaiana assumiu a vice-liderança do ranking e Courtney subiu da nona para a terceira posição com a vitória, que valeu o mesmo prêmio de 100.000 dólares recebido por John John Florence no masculino.
“Que evento! Foi incrível”, disse Courtney Conlogue, muito emocionada após sair do mar. “Eu só queria ficar no ritmo do oceano e estava tentando conter minha ansiedade, vendo essas ondas incríveis, perfeitas, o dia todo. É fantástico vencer de novo aqui. Cada título teve seu próprio caminho especial, mas este agora foi realmente incrível de vencer, com altas ondas, nota 10 e foi ótimo fazer a final com a Malia (Manuel), que surfou muito bem também”.
RESULTADOS DO ÚLTIMO DIA DO RIP CURL PRO BELLS BEACH:
Campeão: John John Florence (HAV) por 14,30 pontos (7,63+6,67) – US$ 100.000 e 10.000 pontos
Vice-campeão: Filipe Toledo (BRA) com 13,83 pontos (7,33+6,50) – US$ 55.000 e 7.800 pontos
SEMIFINAIS – 3.o lugar com 6.085 pontos e US$ 30.000:
1.a: Filipe Toledo (BRA) 13.40 x 12.84 Ryan Callinan (AUS)
2.a: John John Florence (HAV) 16.80 x 15.24 Jordy Smith (AFR)
QUARTAS DE FINAL – 5.o lugar com 4.745 pontos e US$ 18.000:
1.a: Ryan Callinan (AUS) 12.67 x 5.67 Kelly Slater (EUA)
2.a: Filipe Toledo (BRA) 14.17 x 13.06 Jacob Willcox (AUS)
3.a: John John Florence (HAV) 16.87 x 15.17 Gabriel Medina (BRA)
4.a: Jordy Smith (AFR) 15.23 x 8.40 Italo Ferreira (BRA)
DECISÃO DO TÍTULO FEMININO:
Campeã: Courtney Conlogue (EUA) por 15,83 pontos (10,0+5,83) – US$ 100.000 e 10.000 pontos
Vice-campeã: Malia Manuel (HAV) com 14,84 pontos (8,17+6,67) – US$ 55.000 e 7.800 pontos
SEMIFINAIS – 3.o lugar com 6.085 pontos e US$ 30.000:
1.a: Courtney Conlogue (EUA) 14.50 x 9.67 Lakey Peterson (EUA)
2.a: Malia Manuel (HAV) 9.33 x 7.80 Caroline Marks (EUA)
TOP-22 DO JEEP WSL LEADERBOARD – ranking das 2 etapas:
01: John John Florence (HAV) – 16.085 pontos
02: Italo Ferreira (BRA) – 14.745
03: Jordy Smith (AFR) – 11.170
04: Filipe Toledo (BRA) – 11.120
05: Gabriel Medina (BRA) – 9.490
06: Kolohe Andino (EUA) – 9.130
07: Conner Coffin (EUA) – 8.065
07: Seth Moniz (HAV) – 8.065
09: Ryan Callinan (AUS) – 7.415
10: Owen Wright (AUS) – 6.640
10: Kanoa Igarashi (JPN) – 6.640
10: Willian Cardoso (BRA) – 6.640
13: Wade Carmichael (AUS) – 6.075
14: Kelly Slater (EUA) – 5.010
15: Jacob Willcox (AUS) – 4.745
16: Michel Bourez (TAH) – 4.650
16: Mikey Wright (AUS) – 4.650
16: Jeremy Flores (FRA) – 4.650
16: Yago Dora (BRA) – 4.650
16: Peterson Crisanto (BRA) – 4.650
16: Deivid Silva (BRA) – 4.650
16: Reef Heazlewood (AUS) – 4.650
——–outros brasileiros:
23: Michael Rodrigues (CE) – 2.660 pontos
30: Jessé Mendes (SP) – 1.595
30: Caio Ibelli (SP) – 1.595
30: Jadson André (RN) – 1.595
37: Mateus Herdy (SC) – 1.330
38: Adriano de Souza (SP) – 530
TOP-10 DO JEEP WSL LEADERBOARD – ranking das 2 etapas:
01: Caroline Marks (EUA) – 16.085 pontos
02: Malia Manuel (HAV) – 13.885
03: Courtney Conlogue (EUA) – 12.610
04: Carissa Moore (HAV) – 12.545
05: Stephanie Gilmore (AUS) – 9.490
06: Lakey Peterson (EUA) – 8.695
06: Sally Fitzgibbons (AUS) – 8.695
08: Tatiana Weston-Webb (BRA) – 7.355
08: Johanne Defay (FRA) – 7.355
08: Coco Ho (HAV) – 7.355
18: Silvana Lima (BRA) – 2.090