Um Brasil tóxico
Jolivaldo Freitas
A então candidata Marina Silva, à presidência, disse num desabafo que estava ressentida com a polarização tóxica que o Brasil vivia no ano que passou. O que ela não sabia é que a toxicidade se espraiaria e perduraria por todo o período pós-eleição, a partir do momento em que o governo continua em campanha, como se a eleição fosse amanhã, não tivesse terminado. A polarização prossegue com o incremento das ações e bobagens que escrevem e falam os representantes do governo e seus seus satélites. A cada dia o que se vê é a transformação institucional. Hoje tóxico mesmo é o governo que desbancou o PT que também era tóxico em outro sentido.
O astrólogo e autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, que todo mundo sabe é o guru da família Bolsonaro, pelo que se vê e pelo que ele disse – embora não se possa acreditar em nada que ele diz, por faltar-lhe credibilidade e equilíbrio – vai parar de influenciar na política. Ele mesmo garante, assumindo ares de quem realmente era o mentor intelectual da política preconizada pelo presidente Jair Bolsonaro, seu tiete de carteirinha.
Na realidade Olavo de Carvalho que é inepto, mas não burro, sabe que está chegando seu momento de ostracismo. Ele já conseguiu seus mais de 100 dias de exposição e ribalta. Está a caminho de ficar na berlinda, e anuncia a saída à francesa, sem estrebuchar, sem querer gritar como um porco sangrando, por saber que aos poucos até mesmo a família Bolsonaro, que tem se mostrada mouca, com verdadeiros apedeutas, está descobrindo pela influência de outras vertentes políticas e pela proximidade com pessoas inteligentes, que a participação de Olavo de Carvalho na psique da governança está equivocada e fadada aos que se diz popularmente, da vaca ir para o brejo.
Olavo, sim, é um cara voltado para fazer um Brasil tóxico como hoje vivenciamos, em que nada está dando certo e em que as expectativas com o novo governo, que foi eleito pelo voto útil contra um PT corrupto e sem noção. Bolsonaro, notamos e ficamos preocupados todos os dias, não tem noção de governo, não tem perfil de estadista e age e fala como se estivesse numa cantina do quartel, imiscuído com soldados rasos, falando de futebol, cachaça e mulheres.
Na realidade Olavo está anunciando que vai pegar seu banquinho e sair de fininho, mas mesmo saindo vai deixar um legado de estrago para a imagem do Brasil, para os brasileiros, para a política interna e para o próprio governo de uma verdadeira derrocada. Aliás, em se tratando do governo o que se vê é o presidente sofrendo revezes, um atrás do outro na Câmara dos Deputados. Nem o chamado “Centrão”, que é uma espécie de Maria-vai-com-as-outras contanto que receba seu quinhão ou ajude a dividir o butim, tem apoiado o governo.
E Bolsonaro que tanto murro deu na mesa, argumentando e vociferando contra o status normal da política brasileira, que é o toma-lá-dá-cá, começou a dar para poder ganhar. E nem assim está conseguindo muito, principalmente pelas arapucas que ele trem armado usando a mão dos seus filhos e que, invariavelmente tem servido para capturar o seu próprio governo. Um tiro no pé. Muitos bolsonaristas ou pslistas estão um tanto quanto envergonhados pelo voto dado e por terem brigado com parentes e amigos. Uma parcela ainda resiste bravamente para não dar o braço a torcer. Mas, o que vemos ainda é a toxicidade da política, onde as palavras são usadas não para ajudar, mas para desgovernar. E, por enquanto, não temos antígenos. E é bom lembrar que o PT está de tocaia. O que também não é nada sadio para o Brasil.
Escritor e jornalista. Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br