Os militares no equilíbrio político
Jolivaldo Freitas
O presidente Jair Bolsonaro não vai mais participar das manifestações em apoio ao seu governo, marcadas para domingo que vem e disse que nenhum ministro deve ir. Se nem o seu partido apoia, imagine as outras legendas e os militares. A direita está dividida e o que seria motivo para a ida às ruas perdeu o sentido, pois até o “Centrão” vai votar a MP que reduz o número de ministérios.
O intrigante é que os eleitores de Bolsonaro estavam se esquivando de ir às ruas dar uma resposta à manifestação em que professores e estudantes em mais de 200 municípios em todo o país se uniram contra o corte – contingenciamento – das verbas na área da Educação. Mesmo com o chamamento para manifestação no fim deste mês, tem-se a impressão que estão encolhidos. Talvez por causa dos números negativos na economia, os desacertos do governo na Câmara dos Deputados e o turbilhão de imbróglios que preocupa a todos, indistintamente. Mas é bom saber que nesta altura, é preciso torcer para o governo Bolsonaro dar certo. O dólar já disparou e depois se acalmou. O PT está de tocaia, como se diz popularmente, se fingindo de morto para comer urubu.
Na verdade, é coisa muito estranha o próprio governo estar conclamando o povo a uma manifestação. Governos não fazem manifestação popular. Governo não pode colocar o povo contra o povo. Mas, é Brasil e aqui qualquer absurdo é viável. A administração pública está ainda em busca de um perfil. O governo está vivendo da respiração do seu ministro Paulo Guedes, da Economia, pois até o superministro Sérgio Moro começa a desinflar. Se Guedes der uma de fujão e pegar carreira a situação vai entrar num terreno pantanoso. Mas, se tem uma coisa que o governo Bolsonaro vem conseguindo, mesmo sem querer, é fazer um marketing positivo do Exército perante a população brasileira.
Enquanto os índices de aprovação do governo caem de 49 por cento para 25 por cento segundo o Ibope, os militares continuam como sempre e têm a aprovação do povo e uma pesquisa Datafolha mostrou que as Forças Armadas são consideradas como a instituição mais confiável para os brasileiros. O levantamento aponta que 45% dos entrevistados dizem “confiar muito” no Exército, Marinha e Aeronáutica. Depois deles e muito abaixo estão a Presidência da República com 29% de aprovação, o Ministério Público e o Judiciário com 25% e a imprensa com 24% de aprovação.
Como é que se dá a empatia da população com os militares neste governo é coisa simples de se verificar, pois Bolsonaro encheu s administração de oficiais graduados e estes, que despertaram a princípio a desconfiança, com a possibilidade de inapetência, incompetência ou visão míope dos elementos da sociedade brasileira e até mesmo do fazer política, são aqueles que têm se mostrado equilibrados, conscientes, coerentes e algumas vezes até sábios. Mesmo com o astrólogo Olavo de Carvalho fustigando a caserna.
Os militares do governo estão aparando arestas. Veja o caso do general Mourão, vice-presidente, que de repente virou queridinho das esquerdas e até Lula pretende ter uma conversa com ele.
Aliás, se não fossem as crises forjadas pelos filhos do presidente, com certeza que os militares estariam navegando em água de almirante ou num céu de brigadeiro. Os militares, desde o golpe que implantou a República e ungiu o marechal, Deodoro da Fonseca presidente foram chamados como um ponto de equilíbrio. Aqui na Bahia, historicamente, tivemos em plena crise dos anos 1930 a nomeação do tenente Juracy Magalhães como interventor, uma vez que os interventores civis falharam. Mostrou seu pragmatismo e pacificou a política. Virou referência histórica e até folclórica
Bolsonaro que tem mais de 40 militares em posições chaves. Mourão cativa a opinião pública. Bom lembrar que os militares são atores essenciais no fracasso ou sucesso da administração bolsonarista. Como diria Einstein: o Brasil é mesmo uma singularidade quântica.
Escritor e jornalista. Email: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br