LULA – “Bolsonaro é como um chefe de torcida organizada”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que considera o comportamento do presidente Jair Bolsonaro à frente da Presidência da República como o de 1 chefe de torcida organizada. Segundo o petista, “a quantidade de besteira” que Bolsonaro fala é para agradar a sua torcida composta por “fanáticos”.
“Eu às vezes considero o comportamento do Bolsonaro como chefe de uma torcida organizada. O Flamengo, que é o time que tem mais torcida no Brasil, eu penso que é o Corinthians, talvez você pense que é o Bahia. Mas a torcida organizada não representa torcida, a torcida do Flamengo é muito grande, é uma torcida pacífica, que vai no estádio pra ver o jogo, eles não querem vaiar o jogador, eles querem ver o jogo, mas dentro da torcida organizada há uns pequenos grupos que xingam, que vão no centro de treinamento vaiar”, afirmou.
“O Collor, ele está governando e falando… o Bolsonaro… para a sua torcida organizada. A quantidade de bobagem que ele fala é pra agradar a sua torcida organizada, pra agradar os seus fanáticos, aqueles que não estão preocupados com o Brasil, que não estão preocupados com o povo, que não querem saber da qualidade de vida do povo. Então, ele vai falando”, disse, confundindo inicialmente o nome do presidente.
As declarações foram dadas em entrevista ao canal do YouTube do jornalista Bob Fernandes, que também será exibida na TVE Bahia. Lula usou uma blusa branca, paletó preto e, ainda, estava com uma aliança de compromisso pelo namoro com Rosângela da Silva, a qual chama carinhosamente de “Janja”.
Ao avaliar o governo, Lula disse que Bolsonaro nomeou Paulo Guedes para o comando do Ministério da Economia “pra fazer todo o mal”.
“O papel do Guedes é destruir a economia brasileira e fazer com que o Brasil seja 1 país totalmente vassalo, dependente dos Estados Unidos da América do Norte”, disse.
Sobre os militares no governo, Lula disse que o presidente só os nomeou para “dar uma certa garantia a eles”. “Pra dizer: ‘olha, nós estamos aqui, nós estamos aqui’”, afirmou.
Lula também comentou a declaração do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército e atual assessor do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do Palácio do Planalto, em 3 de abril de 2018 no Twitter, na qual disse que “assegura à nação” que o Exército compartilha “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia”. A declaração foi feita às vésperas de julgamento de habeas corpus do ex-presidente no STF (Supremo Tribunal Federal).
O petista disse que talvez nunca tenha conhecido Villas Bôas pessoalmente, mas que sabe que ele está “muito doente”, por ser portador de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) –doença neuromotora degenerativa -, e que deveria ter a “decência” ao se referir a ele, pelo modo como ele tratou as Forças Armadas em sua gestão.
“Eu talvez não o conheça, se eu conheci com outra patente eu não me lembro. Eu sei que ele está muito doente, uma doença muito delicada e eu não quero ficar discutindo muito o general Villas Bôas. Eu acho que quem tá passando pelo o que está passando deveria ter um pouco mais de decência ao se referir a mim”, disse.
“Ele deveria ler os anais das Forças Armadas Brasileira, do Marechal Deodoro da Fonseca até o Bolsonaro e eu duvido que ele encontre nos anais das Forças Armadas Brasileira 1 presidente que teve o respeito e que cuidou das Forças Armadas como eu cuidei. Ele pode aproveitar que está doente e ficar lá no Palácio lendo pra saber se em algum momento da história do Brasil 1 presidente cuidou das Forças Armadas como eu. Porque eu criei uma política de defesa, porque eu não acho que general de Exército ou soldado é brinquedo playmobil não”, afirmou.
Para Lula, as Forças Armadas “têm 1 papel importante na defesa da nossa soberania, em cuidar da defesa do nosso povo contra possíveis ataques inimigos“.
“É por isso que eu quero as Forças Armadas preparada, porque quando for preciso não adianta chamar por Deus, porque Deus também vai chamar o adversário”, disse.
Lula disse ainda que os ataques dos militares a ele e ao PT são motivados por “uma doença ideológica”. “A única explicação que eu entendo é porque o PT ousou em colocar gente pobre da periferia e do campo desse país na universidade. Sabe, conseguiu fazer com que crianças pobres conseguissem acesso a 1 curso técnico profissional”, disse.
‘EUA mandam mais em Moro do que a mulher dele’
Lula afirmou que, para ele, os últimos acontecimentos no Brasil, principalmente em relação à operação Lava Jato, têm relação com a atuação do governo dos Estados Unidos.
“Hoje eu tenho clareza de que tudo que está acontecendo aqui no Brasil na Lava Jato tem o dedo dos americanos. O departamento de justiça americano manda mais no Sergio Moro do que a mulher dele”, disse.
Lula disse que hoje se vê em uma “encruzilhada em função das mentiras” contadas por procuradores da Lava Jato, como o coordenador da operação no Paraná, Deltan Dallagnol, pelo ex-juiz e ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e desembargadores do TRF-4. Disse que, agora, aguarda a “Suprema Corte retomar a direção do Poder Judiciário” do país e fazer justiça, principalmente após a divulgação em reportagens do site The Intercept de conversas dos procuradores, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato.
“Eu desafio a CIA, o FBI, a Nasa, pode investigar da Lua. E eu digo sempre o seguinte: ‘se pegar o Moro, o Dallagnol e os juízes que me julgaram e colocar todos eles no liquidificador, bater: o suco que der não dá 10% da minha honestidade, do meu caráter, nem da minha dignidade’. Então, eu tenho expectativa de que depois de tudo que aconteceu, depois de tudo que está acontecendo, que a Suprema Corte faça justiça nesse país”, disse.
“E eu só quero dizer que eu não estou precisando de favor, o que eu quero é justiça”, completou.
Sobre conversa divulgada pelo The Intercept que mostra que Moro foi contra a apreensão dos celulares de Eduardo Cunha, Lula questionou: “Você acha normal uma Polícia Federal que vai na minha casa e revira tudo não ter coragem de pegar o telefone do Eduardo Cunha?”
“O que tinha no telefone do Eduardo Cunha que o Moro não queria que ninguém soubesse? Por que eles não aceitaram uma delação do Eduardo Cunha? Tudo isso, o Moro tem que explicar e não tem mais toga. Se ele se escondeu atrás da toga, ele não tem mais. Ele virou 1 cidadão comum e precisa se explicar para a sociedade brasileira”, disse.
SEM PROGRESSÃO DE REGIME
Em 11 de agosto, o ex-presidente determinou a seus advogados para que não solicitem à Justiça o pedido para que ele cumpra a pena em regime semiaberto ou aberto. Ele disse que só pretende ir para casa após eventual absolvição ou anulação da sentença.
Na entrevista, Lula disse que “não adianta ficar querendo discutir em seu caso a progressão da pena”.
“Não adianta. Eu não quero: ‘Ah, o Lula, coitado, já está com 73 anos’. Eu não vou pedir [a progressão de regime] você sabe o porquê? Porque eu quero a minha inocência. Eu quero sair daqui com 100% de inocência”, afirmou.
Briga com Otávio Frias e relacionamento com a imprensa
Lula disse que “nunca teve 1 tratamento respeitoso” por parte da imprensa, mas que ninguém, “tratou a Folha com o respeito” como ele tratou, mesmo com os ataques que sofria. Ainda contou uma “briga” que teve com Otávio Farias, ex-diretor editorial do Grupo Folha, que morreu em agosto de 2018 vítima de 1 câncer no pâncreas.
“Eu tive uma briga com o Otávio Frias porque eu fui almoçar lá, a convite do velho Frias, e estou lá o Otávio pergunta pra mim: ‘Você fala inglês?’. Eu falei: ‘Não’. Ninguém nunca perguntou pro Kennedy se ele fala português e ele governa os Estados Unidos. Aí ele fez outra pergunta e eu fui ficando enfezado, fez outra pergunta. E eu falei: ‘Otávio se você quiser fazer uma entrevista comigo, vamos marcar e eu venho aqui pra fazer a entrevista?’. Ele falou: ‘Eu posso perguntar porque eu sou jornalista’. Eu levantei, empurrei a bandeja, mandei enfiar a bandeja’ e fui pro elevador”, contou.
“Aí eu olho pra mesa e vejo ele sozinho, eu voltei, coloquei a mão na mesa e falei: ‘Otávio, sabe porque você está com bronca de mim? Porque eu vou ganhar do seu candidato, eu vou ganhar do seu candidato’, que era o Serra”, completou, ao dizer que foi a única vez que “destratou” a imprensa.
Lula disse que, para ele, Bolsonaro humilha a imprensa. “O que esse cidadão faz com a imprensa não é não gostar, é humilhar, é vender ignorância pra colher facilidade”, afirmou.
Também disse que Bolsonaro surgiu como “o monstro”, mas que não era “o que a Rede Globo esperava”. “Não tiveram coragem de lançar o Luciano Huck. E até agora, pasmem, dia 14 de agosto, a Globo não teve a pachorra de publicar as mensagens reveladas pelo Intercept”, disse.
Lula ainda afirmou que 1 dos motivos que o faz ter vontade de voltar a presidir do Brasil é a regulação da mídia. Para ele, a discussão sobre a regulação dos meios de comunicação de “é uma questão de honra”. “A Globo acha que quem tem que regular a televisão é o controle remoto”, disse em crítica ao monopólio das redes de televisão no Brasil.
Declarações de Bolsonaro sobre Argentina
Lula também falou sobre como viu a declaração de Bolsonaro sobre a vitória da chapa da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner nas prévias das eleições presidenciais. O presidente disse que, caso a chapa seja eleita, o país vizinho vai virar uma nova Venezuela e “o Rio Grande do Sul vai virar Roraima” –Estado brasileiro que recebeu diversos refugiados após a crise política e econômica no país venezuelano.
“Eu não acreditei que o presidente do Brasil tivesse a insensatez e a pachorra de falar de seu mais importante parceiro comercial e parceiro estratégico, porque a Argentina deve ser tratada como uma parceira estratégica, ele ofender o povo argentino, ofender o cara que ganhou a prévia e ainda ofender o povo gaúcho, achando que o povo gaúcho vai se transformar em uma Roraima se ele ganhar”, disse.
“Olha o que ele acha, que o bom pra Argentina é o Macri que levou a inflação pra 74%, que levou uma dívida externa pra 100 bilhões, que aumentou a quantidade de gente dormindo nas ruas? Pelo amor de Deus”, completou.